Geografia do Brasil: aspectos econômicos e históricos da dívida externa brasileira
- Pró-Estudar
- 28 de out. de 2018
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Escutamos ou lemos com relativa frequência o termo “dívida externa”, mas dificilmente é nos passado a origem, significado e proporção do assunto. O endividamento externo envolve empresas nacionais, do governo, bancos e órgãos estrangeiros. Essa dívida geralmente decorre de investimentos na produção e grandes obras de infraestrutura, o que implica no pagamento de juros em moeda estrangeira.
A dívida externa brasileira tem suas raízes em 1924, a partir da independência o Brasil se torna obrigado a cobrir as dívidas da colônia que antes correspondiam a coroa portuguesa. Ainda no período do Império, houveram tentativas de renegociação das dívidas correspondentes aos vencimentos de débitos, todavia sem sucesso. Da independência até o fim da Monarquia, o Brasil contraiu 17 empréstimos em bancos ingleses, afim de quitar dívidas antigas, sendo algumas dessas ainda ligadas ao pagamento das dívidas da colônia. Com o início da guerra do Paraguai as pendências brasileiras aumentaram, novamente com o credor de maior prestígio do período: a Inglaterra, que forneceu navios e empréstimos para o Brasil bancar o conflito armado. Além disso, a grande potência econômica pressionava o Brasil para aderir medidas liberais na área de comércio exterior, questões concentradas na elite escravista brasileira.
Partindo para o período inicial da República, o qual foi marcado por empréstimos públicos externos para atender aos requisitos do rápido processo de urbanização, pela continuidade da renegociação das dívidas e por alguns momentos de instabilidades decorrentes do aumento das dívidas, como a suspensão de pagamento dos serviços de todos empréstimos por três anos, a partir das negociações de acordos feitas por Getúlio Vargas; e o rompimento de Juscelino Kubitschek com o Fundo Monetário Internacional (FMI), ficando fora do circuito financeiro mundial, já que o fundo não aceitava os níveis da inflação brasileira. O gerenciamento da dívida é feito pelo FMI, que impõe geralmente regras e metas antipopulares, pois sacrificam e penalizam o lado mais fraco da economia: os trabalhadores.
Em 1964 o Regime Militar toma o poder e os militares assumem o país até 1985. Nesse período houve um grande aumento da dívida como mostra a tabela abaixo.

A tabela mostra a evolução da dívida, destacando o grande aumento de 1500% que houve entre 1964 e 1978, fato relacionado ao “Milagre Econômico”, marcado por grandes obras de infraestrutura, e alta importação de petróleo, após o primeiro choque mundial (1973). Esses problemas se acentuaram no Brasil por conta da sua condição de grande importador do recurso, cujos os derivados eram de extrema importância para boa parte da indústria e quase totalidade dos seus meios de transporte. Como solução o Brasil procurou reforçar as exportações e a substituição de importações.
A estratégia traçada estava sendo usada progressivamente até o momento da “crise do mercado financeiro internacional”, desencadeada por diversos fatores sucessivos: a instabilidade política no Oriente Médio, as dificuldades das grandes empresas alemãs, canadenses, americanas e o insucesso da reunião do FMI, que vetou a criação do fundo emergencial de US$25 bilhões. Com essa medida, inúmeros países se viram forçados recorrer ao FMI no período de 1979 a 1983, e a renegociar suas dívidas externas por meio de novos empréstimos, o que resultou no aumento da dívida de países em desenvolvimento e importadores de petróleo, incluindo o Brasil.
Em um curto espaço de tempo, correspondente ao governo de Itamar Franco em diante, houve a estabilização via Plano Real, somada ao aquecimento da nossa economia, o Brasil passou de devedor para credor do FMI, uma vez que do total da dívida (297 bilhões de dólares em 2011), grande parte pertencia aos bancos privados (136) e ao setor privado (98), enquanto o governo devia apenas 58 bilhões e apresentava 350 milhões em reservas monetárias.
Portanto, a dívida externa deixou de ser o maior dos problemas do Brasil; o fator mais preocupante tornou-se a dívida interna. A dívida está associada ao conceito do risco-país, que representa a medida de confiança ou desconfiança dos investidores estrangeiros em relação à possibilidade de um país pagar ou não seus débitos.
Mas só o Brasil apresenta um endividamento externo corpulento? Na realidade, não. Em comparação a países desenvolvidos como o Japão, EUA e Alemanha, o Brasil apresenta um número pouco expressivo. Esses países argumentam que possuem reservas suficientes para acompanhar a taxa de câmbio e que a dívida interna é prioridade.
Como demonstrado, a dívida externa é um problema que assola o Brasil desde sua origem e que foi se agravando por necessidade de empréstimos, variações do cenário econômico internacional, irreflexão e precipitação de governos e do setor privado. O que trouxe e pode continuar a trazer consequências nas relações com outros países, dificuldades de novos empréstimos, renegociações e desequilíbrio da balança comercial.
Escrito por William Inocêncio
Fontes:
http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/divida-externa-2
BAER, W. A economia brasileira. São Paulo: Nobel, 1995.
BANCO CENTRAL. Relatório (1979-1984); CERQUEIRA, C. Dívida; FREITAS, C. Breve;
KRUGMAN, P. & OBSTFELD, M. International; MIN. ECON., FAZ. E PLANEJ. Brazil’s; PEREIRA, L. Turning.
Dados: Org. Reinaldo Tronto, com dados do Banco Central do Brasil
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