Em meio às festividades da Copa do Mundo na Rússia, as mídias registraram variados casos de assédio à figura feminina: a gama de assédios englobou tanto mulheres torcedoras – a lembrar o vídeo em que um grupo de brasileiros cantarolou para uma russa palavras obscenas e depreciativas – cujo objetivo era somente prestigiar a partida, quanto jornalistas, as quais queriam realizar seu trabalho tranquilamente.
Tal episódio apenas nos reforça a percepção de que a maioria das culturas ainda propaga ideais machistas e do quanto as mulheres, AINDA, tem que lutar para conseguir espaço e se afirmar na sociedade. Entretanto, sobre as conquistas das mulheres, vale a pela relembrarmos os artigos publicados pelo Grupo Pró-Estudar: “Mulheres também torcem”, em que fomos informados de que havia público feminino iraniano, inclusive sem seus véus, nos estádios durante a Copa; “Brasileira ganha prêmio internacional por pesquisa sobre Zica e Chagas” e “As mulheres na ciência”.
Mas, como a Literatura, tanto nacional, quanto estrangeira, nos ajuda a entender esse panorama de violências de cunho moral e, em sua maioria, físico, contra as mulheres?
Você pode não se lembrar ou não ter se atentado, mas a literatura presente no primeiro livro da Bíblia, Gênesis, nos exterioriza a noção de culpabilidade atribuída à figura feminina: por infringir uma regra imposta pelo criador, Eva é a culpada pela sua expulsão e de Adão do paraíso, fato que a caracteriza como “frágil”.
Além disso, na Mitologia grega, percebemos, também, tal noção de culpabilidade veiculada pelo “Mito de Pandora”: à Pandora foi atribuída a tarefa de não abrir uma caixa, onde se encontravam todos os males do mundo; entretanto, falhou em sua tarefa, deixando todos os males do mundo escaparem, ficando na caixa somente a esperança. Desta forma, percebemos que desde o período clássico, à mulher são atribuídas características negativas, tais como “curiosidade”, fragilidade e a noção de culpa pelas desavenças ocorridas.
Sendo assim, uma vez que a Literatura, dentre outras funções, é responsável por exteriorizar os pensamentos e formas de agir de uma dada época, podemos pontuar que, hoje, a noção de que a “a culpa do estupro é da mulher, pois ela estava portando vestes inadequadas” pode ser fruto de séculos de pensamentos os quais culpam as mulheres pelas tragédias ocorridas.
Sobre a Literatura brasileira, não podemos esquecer-nos de expoentes tais como Lygia Fagundes Telles e Clarice Lispector que dedicaram parte de suas obras à discussão sobre a violência contra as mulheres: Lygia em seu conto “Venha ver o pôr do sol”, relata, de modo sutil, um crime passional contra a personagem principal, cometido por seu ex-namorado. Em “A língua do P”, Clarisse também descreve um Feminicídio, realizado contra uma jovem na estação de trem.
Deste modo, percebemos que a Literatura pode incutir no imaginário social tanto determinadas formas de pensamento – neste caso, o machismo, veiculado pelas literaturas presentes na Bíblia e na Mitologia grega, cuja função era a de culpabilizar a figura feminina -, tanto combater determinadas formas de pensamento, como a literatura contemporânea de Lygia e Clarice.
Escrito por: Ariane Parada
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