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Vivemos um tempo de ataque a cultura e a ciências! Vivemos um tempo de ataque a cultura e a ciências? Ataque a cultura? Ciências? Vivemos?
Nesse ponto acredito que você, meu caro leitor, pode sentir duas coisas: vontade de ler o texto esperando encontrar as respostas dessas perguntas ou estar entediado e desistir logo de um texto que começou com perguntas sem pé nem cabeça. Pois bem, sou agora apenas uma voz na sua cabeça e não posso te impedir de abandonar a leitura, mas também o convido a uma conversa, um papo furado, sobre esse fogo que devorou o museu.
Primeiro gostaria de lhe contar a primeira história que me veio à mente quando li sobre o terrível incêndio. Ao ver as manchetes só consegui pensar em uma coisa: não havia um sistema contra incêndios em um museu tão importante, tão velho e tão frágil? Minha mente também lembrou de uma visita técnica que fiz a uma fábrica ano passado, durante um evento chamado Semana da Química. Dentre as diversas inovações que nos foram apresentadas estava um líquido misterioso. Cor de água, aspecto de água, era usado para apagar o fogo, parecia água. Contudo, essa coisa não era água, pois não molhava. Evento que nos foi mostrado ludicamente através do mergulho de um papel higiênico e depois de um celular nesse líquido místico. Ambos os objetos saíram secos, literalmente secos, e nós boquiabertos. Em seguida o guia colocou velas em uma mini escada, aproximou a boca do pote e liberou uma pequena quantidade de vapores do líquido intrigante no topo da escada. Todas as velas apagaram quase que instantaneamente. Essa apresentação terminou com uma explicação; esse líquido é projetado para combater incêndios em bibliotecas ou locais com muitos eletroeletrônicos como centrais de rede, pois não molha e, consequentemente, não destrói esses materiais e esse líquido pode ser substituído pela água em esguichos comuns. Fim das memórias e início da reflexão sobre o museu.
Em um museu de tal acervo por que não colocar um sistema como esse líquido mágico?
Falta de dinheiro? Nos últimos anos até “ok” considerar essa opção, mas muito dinheiro já foi investido (https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2018/05/bicentenario-museu-nacional-o-mais-antigo-do-pais-tem-problemas-de-manutencao.shtml). Mesmo que caro, a implantação de um sistema efetivo contra incêndios deveria ser algo como prioridade para evitar perder tanta história, tanta cultura.... Cultura, palavra interessante e extremamente complexa. Que cultura cultuamos hoje? Compro um livro de R$50 ou vou no InterUnesp por R$500. Nossa, como é caro esse livro, R$200, dá pra eu comprar um fone de ouvido novo, bluetooth, bonitão. Cultura não é só Shakespeare, da Vince ou Machado de Assis, cultura é trejeitos, é linguagem, é escolha, é ciclo de amizades, é dia a dia, cultura é o fundamento dos nossos hábitos. Quantos livros você leu esse ano, quantas peças de teatro você assistiu, quantos museus visitou? Poxa, mas a nova HQ do Batman estava na promoção, cinema é muito mais dá hora que peças e museus ficam longe e são caros.
Caro leitor, concordo, te entendo, te abraço! Eu digo a mesma coisa! Faço parte do mesmo nicho que você, tenho a mesma cultura, ou seja, temos hábitos em comum. Porém qual a origem disso? Estamos sujeitos a uma rede tão complexa de forças que seria uma pretensão extremamente exagerada eu responder a isso. Mas pense: Qual o sentido de valorizarmos mais isso do que aquilo? Desde o momento que nascemos e durante todo nosso desenvolvimento quantos estímulos temos para procurar uma leitura elaborada, refletir sobre um fenômeno desconhecido ou olharmos para o passado (olha o museu aqui) e pensar sobre o futuro? Mas como valorizar algo que nem tenho acesso?! Museus ficam longe!
Querido leitor, acho que essa pergunta é a própria resposta. Não valorizamos museus, pois esses não são de acesso a todos. A porta pode estar aberta, mas as paredes são tão gélidas e distantes que não nos sentimos convidados a entrar. Quando entramos nos sentimos como um estranho no formigueiro; são só quadros, a Mona Lisa é tão pequena! Então aprendemos e criamos o habito de atribuir valor, dinheiro, a tudo. Custa X ir ao museu, se eu investir Y eu posso ir pra praia, um rolê bem mais da hora que um museu chato. Viu? Transformamos a cultura, a ciências e a educação em mercadoria, em objeto, numa massa palpável que pode ser agora comparada aos prazeres materiais. Como podemos investir (ato que parte do princípio de lucro e prejuízo) em algo de valor simbólico. Desculpa galera, não dá pra comprar cultura. Contudo, é possível escolher o local onde o museu será construído (no centro, área nobre de uma cidade grande), comprar uma emissora e disseminar determinados valores, escolher o que será ensinado nas escolas públicas (mas não na rede particular). O que dá pra fazer mesmo é escolher qual cultura será espalhada, feito uma praga, como verdadeira, e isso é violento. Temos a cultura do azul menino e rosa menina, e ao mesmo tempo notícias de meninos de 6 anos sendo espancados até a morte por brincarem de casinha, da família tradicional, que causa uma descaracterização da criança criada pelos avós... preciso continuar? Acho que fica claro como algo transmitido implicitamente, na forma de diferentes simbolismos, se torna violento. Nessa linha acabamos por comprar a ideia de que educação pública não presta, que a escola deve ser empreendedora (chega de conteúdos, vamos ensina-los a trabalhar em casa já que ninguém vai arrumar emprego mesmo), de que museus são “velhos e chatos” ou até que uma escola deve prezar apenas por conteúdos deixando de tomar posição, de discutir, de assumir um posicionamento ou partido. Com tudo isso em jogo, vemos que em educação, cultura e ciências o investimento é um negócio horrível; “olha que produto ruim, a gente põe dinheiro e não tem retorno, ahhh não, cancela isso aí”. Peço desculpas novamente, mas se você quer lucro direto e imediato vá vender pasteis. Educação e cultura não são mercadorias e consequentemente não geram lucros.
O fogo é um fenômeno natural, ele tem fome e devora tudo por onde passa. Florence, em sua música Hunger, diz que todos temos uma fome. A cantora metaforiza que quando descobrimos o que nos faltava, pelo o que tínhamos fome, podemos nos entender e então nos sentirmos completos. O fogo come os museus, a falta de investimento come as escolas e Universidades, o ódio disseminado come as lutas por direitos... Acredito que, além dos muitos que tem fome por comida, nós temos fome por cultura, ou melhor, pelo acesso à cultura. Notando essa fome podemos lutar juntos para supera-la? Já estamos juntos a duas páginas desse famoso editor de textos pirateado, tomarei a intimidade de te chamar de amigo. Então, amigo, você acha que podemos nos unir como um todo? Médicos e garis, engenheiros e domésticas, professores e alunos, para lutar por algo para todos? Outra forma de violência simbólica é essa segregação criada na sociedade, que nos faz menosprezar aqueles que se humilham para conseguir o que comer. Para encerrar esse papo de bar, o fogo é a natureza e nós somos humanos porque realizamos ações para alterar a natureza. Plantamos em solos inférteis, voamos em um monstro gigante de aço e apagamos o fogo! Nós somos humanos devido ao nosso trabalho de resistir e alterar a natureza.
Eu sei! Não precisa me avisar que esse texto tem erros de português, eles foram intencionais em algumas partes e em outras não. Não sou culto, não comi cultura suficiente, nos mercados que frequento não existe isso nas prateleiras. Lutei com garras e dentes para sobrevier a graduação, eu não pertencia àquela realidade. Mas me fiz pertencer e luto para continuar meus estudos. Busco aumentar minha cultura, pois vejo a enorme lacuna que existe entre eu e meus colegas. Espero ter agradado vocês com essa simples conversa, espero ainda mais que terminem essa leitura com diversas reflexões, dúvidas e raiva por eu não ter respondido nada. Usar seus fundamentos, observar o fenômeno, refletir sobre o fenômeno, interpretar o fenômeno para então elaborar novos fundamentos, isso é ciências! Respostas finalizadas, prontas e polidas você encontrará em horóscopos ou na religião, mas não na ciência.
Escrito por Carlos Moris.
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