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Há pouco mais de um século, o mundo vivenciou um dos maiores marcos da história, responsável por trazer consequências que perduram até hoje nos países envolvidos. O período denominado por Eric Hobsbawn como Era dos Extremos – título de um livro de sua autoria, publicado no ano de 1994 – teve seu início em 1914, e ruiu no ano de 1991, aos finais da Guerra Fria. Dentro desse período insere-se a Segunda Guerra Mundial, a guerra que, para além dos elevados saldos de mortos e feridos, fez com que o mundo se deparasse com um fenômeno até então inimaginável: a força do discurso político e ideológico na movimentação de massas. Vamos fazer um breve resgate histórico:
Chocando-se brutalmente com todo o ideal de crença no progresso e na Modernidade tão presentes na Belle Époque, a disputa imperialista crescente entre as nações europeias culminou nA “Grande Guerra”. Findada no ano de 1918, a Grande Guerra, assim chamada pelas pessoas da época, trouxe saldos terríveis, tanto para os “vencedores” quanto para os “perdedores” do conflito. Entretanto, a Grande Guerra foi apenas o berço de um conflito ainda maior que se iniciou no ano de 1939.
A situação precária em que ficaram depois da guerra, juntamente com a humilhação imposta aos países perdedores através do Tratado de Versalhes (1919) são os principais motivos apontados como as origens da Segunda Guerra Mundial e dos regimes totalitários, sustentados pelo discurso fascistas e, na Alemanha mais especificamente, o nazismo.
A Segunda Guerra foi emblemática por todo o ideal que permeava as nações totalitárias. É intrigante pensar em como o poder das palavras e do discurso político, fundado no ódio, foi capaz de fazer uma Nação inteira se mobilizar pela eliminação do “inimigo”.
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Placa fixada no Museu do Holocausto em Washington, identificando alguns sinais do fascismo: empoderamento contínuo do nacionalismo, desdém pelos direitos humanos, identificação de inimigos como causa unificadora, supremacia militar, sexismo desenfreado, controle dos meios de massa, obsessão com a segurança nacional, interligação entre religião e governo, direitos corporativistas protegidos, supressão dos direitos dos trabalhadores, desdém pelos intelectuais e pelas artes, obsessão por crime e punição, corrupção e nepotismo desenfreados, eleições fraudulentas.
O uso do discurso político como forma de mobilização social, capaz de incitar o ódio contra o inimigo, de levar homens sorrindo aos campos de batalhas por estarem cumprindo um dever para com a Nação, que movimentou os meios de comunicação para a afirmação desse discurso, foi objeto de estudo de diversos sociólogos contemporâneos. Dentre esses pensadores, Karl Mannheim merece destaque nessa discussão.
Karl Mannheim nasceu no ano de 1893 e faleceu no ano de 1947. Foi um importante sociólogo pós-moderno. Mannheim é fundador da Sociologia do Conhecimento, que afirma existir uma relação entre o conhecimento e o contexto em que foi produzido. Além disso, o autor reformulou o conceito de “Ideologia”, tirando dele a perspectiva negativa de “falsa consciência”. Mannheim é também notório na discussão sobre o nazismo. Seu livro Diagnóstico de Nosso Tempo traz um capítulo muito interessante para a discussão: Estratégia do Grupo Nazista.
De acordo com Mannheim, o ponto central da estratégia psicológica do nazismo foi enxergar a pessoa como parte de um grupo social amplo, e nunca como um indivíduo. E, à luz da Sociologia, o que isso significa? Significa que, quando uma pessoa está inserida em um grupo que lhe confere uma certa identidade (exemplos: religião, país, família, política, futebol, etc.), ela se torna muito mais influenciável. Cada grupo possui seus próprios valores, que orientam o comportamento de seus membros.
Essa única estratégia teve uma dupla finalidade nas ações de Hitler: organizar a sociedade alemã num regime totalitário; desintegrar as massas, tornando os indivíduos que a compõem inseguros, fracos e dispostos a apegar-se em qualquer um que se apresente. Essas massas desintegradas acabam por se dividir em dois grupos: os que se tornarão escravos do regime, e os que se tornarão soldados do regime nazista. A organização da sociedade sob um regime totalitário e os indivíduos que se tornaram soldados do regime nazista são os pontos centrais da nossa discussão.
Para unificar esse exército, Hitler sabia que simplesmente organizar a massa não seria o suficiente. Por essa razão, criou mecanismos que deram um “fermento emocional” para essas pessoas. Mannheim diz:
“Nas escolas de líderes em que eles [esses indivíduos] treinam a liderança, tudo é feito para produzir uma mescla bizarra de emotividade infantil e submissão cega. Os nazistas sabem que seu tipo de líder só pode florescer em grupos do tipo bando. É sobretudo a esses auditórios com um desenvolvimento emocional artificialmente tolhido que atraem os gritos histéricos de Hitler.”
Em suma, em um país onde as pessoas estão descrentes de qualquer tipo de melhoria social, com um profundo sentimento de insatisfação, isoladas e sem qualquer identificação, a emergência de um discurso fascista, encabeçado por um determinado líder carismático, se torna mais propícia.
Por mais que anos tenham se passado desde o fenômeno do nazifascismo, notícias como essas estão se tornando cada vez mais comuns:
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Isso nos leva à seguinte pergunta: o que está acontecendo com o mundo que está fazendo com que esses discursos ressurjam, e com um número significativo de adeptos?
Para responder à esta e outras questões, discutir o nazismo e sua nova faceta, o neonazismo, torna-se fundamental nos dias atuais. Como afirma o doutor em História Carlos Gustavo Nóbrega de Jesus (2003), em seu artigo intitulado “Neonazismo: Uma nova roupagem para um velho problema”, “para o bem de uma nova geração que não sente o peso e a violência do que foi o Holocausto, é necessário salientar o papel e a importância da memória na história, para assim discutir e criticar o que foi a intolerância nazista, que hoje, infelizmente, reaparece permeada nas entrelinhas do discurso neonazistas”. Revisitar o discurso político que vigorava no passado, a fim de compreender as condições que o favoreceram, nos possibilita, enfim, entender suas reminiscências no presente.
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Escrito por: Larissa Arroteia e Paula Cardoso
Referências:
JESUS, C.G.N. Neonazismo: Uma nova roupagem para um velho problema. Akrópolis, Umuarama, v.11, n.2, abr./jun., 2003. Disponível em <http://revistas.unipar.br/index.php/akropolis/article/viewFile/333/300>. Acesso em: 14 de abril de 2018.
MANNHEIM: A Estratégia do Grupo Nazista. In: Diagnóstico de Nosso Tempo. Disponível em: <https://issuu.com/alexbrummachado/docs/estrat__gia_do_grupo_nazista>. Acesso em: 22 de abril de 2018.
MANNHEIM: A Sociologia do Conhecimento. In: Ideologia e Utopia. Disponível em: <https://kupdf.com/embed/karl-mannheim-ideologia-e-utopia_59f60427e2b6f5c52c3dd72f.html?sp=0>. Acesso em: 14 de abril de 2018.
MANNHEIM, K. Ideologia e Utopia. In: Ideologia e Utopia. Disponível em: idem. Acesso em: 14 de abril de 2018.
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